Rita Matos inicia a rubrica Diário de Um Pinguim
Em julho, o Blogtailors dá início à rubrica Diário de Um Pinguim. Esta é a primeira de uma série de crónicas de Rita Matos, portuguesa que integra há seis anos a equipa de produção da Penguin. No Diário de Um Pinguim, Rita Matos abordará, entre outros assuntos, a sua experiência na editora, bem como temas do mercado editorial internacional.
A partir de setembro, acompanhe a crónica de Rita Matos no Blogtailors.
Diário de Um Pinguim — Capítulo 1
O que leva as pessoas a investirem em mais uma coleção de clássicos?
Trabalho em produção na Penguin há seis anos e o segredo, na minha opinião, assenta em dois princípios básicos: 1) design e produção originais e irresistíveis; 2) o desejo intrínseco que todos temos de colecionar coisas: sejam cromos da Panini, suplementos do Expresso… ou livros.
Tenho tido o privilégio de trabalhar em várias séries fantásticas de clássicos da Penguin, no âmbito da produção. A maioria das vezes, funciona mais ou menos assim:
1) os editores apercebem-se de que já há imenso tempo que não publicam uma edição nova do Dickens ou da Jane Austen, e pedem à equipa de designers umas ideias para dar uma nova roupagem aos clássicos;
2) os designers abordam o projeto como uma série coesa de um só autor, de uma coleção de autores ou como obras de arte individuais;
3) é aqui que entramos nós, a equipa de produção. O designer vem ter connosco e diz: «Ó Rita, estive a pensar e acho que era giro usar tecido com estampagem mate para a próxima série… Achas que é possível? E temos dinheiro para isso?»
É o tipo de projeto de que mais gosto: experimentar coisas novas. Por isso, dou sempre a mesma resposta: «Vamos lá tentar!» Nessa altura entro em conversas intensas com a gráfica, que normalmente diz-me que não, que acha que não é possível, que este processo é muito difícil do ponto de vista técnico, etc. Digo-lhes então que queremos experimentar na mesma. Peço para falar com o especialista técnico da gráfica, consulto os nossos peritos internos e, às vezes, vou mesmo à gráfica supervisionar o processo — e acabamos sempre por encontrar uma solução. Finalmente, negoceio um preço que legitime o uso dos novos materiais mantendo uma margem de lucro saudável para a editora.
Sim, porque é claro que podíamos publicar os livros outra vez em capa mole, com um acabamento simples, e o livro iria sair muito mais barato (tanto à Penguin como ao leitor), mas quem o compraria?
É aí que entra o fator «desejável». Se a série for bem conceptualizada e produzida, a editora consegue vender muito mais exemplares, aumentar a margem de lucro e, com sorte, criar um novo design de referência que entra para a história da edição.
Foi o que aconteceu com esta série de clássicos lindíssimos na qual tive o privilégio de trabalhar desde o primeiro lote, em 2008, e à qual continuamos a juntar cada vez mais obras:
São conhecidos em Inglaterra como os Clothbound Classics, são todos uma criação da designer Coralie Bickford-Smith e são livros em formato pequeno, de capa dura, forrada a tecido e com o padrão estampado. E têm vendido, e vendido, e vendido. Até à data, temos 30 obras na coleção, com mais três a sair este ano.
São caros de produzir? Sim, bastante. Mas valem a pena? Sem dúvida alguma. E a prova está no facto de os leitores acharem a coleção deliciosa e esperarem ansiosamente pelo próximo volume. Na Penguin orgulhamo-nos imenso de termos criado esta série e de termos contrariado a ideia falaciosa de Velho do Restelo de que o livro impresso está em vias de extinção.
Este dinossauro de papel está bem vivo, de boa saúde, e com fatiotas cada vez mais irresistíveis.
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